>10/10 para a anã que criou o OC
Por nada, anã.
Brincadeiras à parte, estou nessa batalha de "desglamourificação" e "neutralização" da mulher há muito, muito tempo. Sou uma anã criada junto ao meu irmão pela minha mãe, vó e bisavó, que trabalharam a vida inteira e estudaram durante todos os anos de suas vidas. Do meu pai, embora fosse um trapalhão e azarado da vida, sempre ouvi que tinha que estudar e lutar pelo que quero para nunca depender de ninguém, muito menos um portador de testículos.
Por conta disso tudo, nunca vi diferença entre os homens e mulheres. Não existia, em minha cabeça, "profissões masculinas", "coisa de mulher", "brincadeira de menino". Eu e meu irmão crescemos neutros. Hoje, na verdade, chego a criar repulsa imediata aos indivíduos que proferem "todo homem/mulher é assim", como se o ser humano fosse tão simples ao ponto de que toda sua história de vida, cultura, conhecimento e desejos fossem nulificados pela existência dos órgãos sexuais (embora eu entenda que as experiências de vida dos pobres coitados façam-lhes raciocinar desta maneira).
Então, embora eu seja, tecnicamente, feminista, não me sinto ou ajo dessa forma. O problema não está na ausência da mulher em campos ou ambientes masculinos, não está naquelas que usam de seu órgão sexual para conseguir mais dinheiro e/ou atenção, não está na moça que resolveu usar saia mais curta e levou uma apertada. Está na atenção midiática explosiva direcionada à mulher, no rapaz que dispende atenção à vagina durante todo seu estado de vigília, naquela ideia absurda de que mulher é "especial", "envolvente", "consciente e propositalmente sexual". Ser mulher e decidir por realizar alguma atividade considerada masculina faz com que essa moça vire um espetáculo para os homens de plantão, mesmo que aquela decisão seja livre de ganhos secundários (exemplo bem comum: mulher resolve jogar algo online por gostar daquilo, usa voz ou meios de comunicação que exponham seu gênero porque ela quer se comunicar com outras pessoas -> homem observador assume que mulher identificou-se porque: 1. está sexualmente disponível; 2. quer atenção; 3. deseja itens/moeda virtual/auxílio em troca de favores sexuais).
Meu ponto é: quando se criam expectativas ou imagens irreais de algo, aquele algo irá, seguramente, gerar ansiedade e frustração. Com toda essa atenção direcionada à mulher, seja da mídia ou do homem médio, é impossível que a mulher não termine por ser alvo de ataque dessa obsessão comunitária. O que se tem, como resultado, é que toda mulher que não é uma virgem sexualmente disponível ou uma esposa e mãe (expectativas), será, invariavelmente, promíscua, burra e interesseira, indigna de sua posição social e descartável (ansiedade de frustração).
Qual a solução, portanto, para essa obsessão coletiva voltada às mulheres? Neutralização e desmitificação. Normalizar a mulher, remover expectativas midiáticas inalcançáveis (com objetivo unicamente comercial) e adjetivos politicamente impostos (guerreira, forte, batalhadora, independente ou qualquer outra ladainha generalizada ao sexo feminino). Mudar a ideia de que a luta pela igualidade de gênero deva ter como finalidade aumentar o número de mulheres cientistas e engenheiras para o entendimento de que o gênero não deve ser um determinante para uma carreira ou ambiente social.
E o que os chans (e redes sociais) têm a ver com isso? Eles servem, simplesmente, como meios de fortificar essa obsessão pela mulher, criar expectativas e exteriorizar as frustrações resultantes disso tudo. Nosso papel aqui é bem simples: NÃO DAR ATENÇÃO, ou dar ATENÇÃO CONTROLADA E SUBVERSIVA. Quando surgir um fio/discussão sobre mulheres, usar da ideia da neutralização e desmitificação para quebrar o raciocínio inicial, como o exemplo (bem ruinzinho, por sinal. Desculpem a mancada):
>OP: donzela da minha faculdade usou saia curta o dia inteiro mesmo tendo namorado
>indivíduo problematizador: é porque ela é senhorita e quer sua atenção e dinheiro
>indivíduo neutralizador: por que é que você se importa com o que outra pessoa faz?
Ou, o modo mais simples, é só mandar um >muié. O termo "escravoceta", embora tenha como objetivo a desmitificação da mulher, fornece a imagem de que o homem é submisso (dum ponto de vista social e pejorativo, não sexual), e pode aumentar ainda mais a frustração quanto ao sexo feminino, por isso acredito na sua descontinuação.
Mas é isso, meninas. Parece que sou uma feminista alucinada encrenqueira, mas é só uma ideia que sempre tive em toda a minha vida, de, como vamos dizer... "descalonamento progressivo" da atenção voltada ao gênero feminino. Hoje, é um fio a menos nos chans sobre bucetas. Amanhã, é um elogio inadequado/comentário sexual a menos que eu recebo do meu professor ou jogando online.