>>12985
>se não acontece comigo, então não acontece
Não caia nessa falácia, anã. Viver de negação não lhe ajudará se -- embora espero que nunca -- você passar por uma situação similar. Moro na cidade que eu acredito ser uma das melhores do Brasil e sou grata por poder andar na rua com meu telefone na mão, mas temo todos os dias pela minha família, que, em contrapartida, mora numa das cidades mais violentas do país.
Além disso, é autoenganação achar que a violência é regionalizada e imóvel. Você vive num estado seguro e rico, na capital. O que você acha que acontecerá quando Curitiba não conseguir mais suprir o influxo gigantesco de gente que vem do Norte e Nordeste? Se eu já vejo isso no interior do estado, imagine como está aí na capital... Não existem estratégias governamentais o suficiente (muito menos dinheiro) para lidar com dezenas e dezenas de famílias que chegam aqui no estado com só o cachorro de mudança.
Sem contar o fato que estupro e violência doméstica são absurdamente subnotificados. Esses 60 mil casos de estupro, pelo que entendi, foram coletados do banco de dados da polícia, ou seja, necessitam da criação de um boletim de ocorrência. Comparativamente, se for pegar os dados do SUS, que dependem só da notificação do caso após coleta da história, chega a ter um aumento de mais de 3 vezes para dados de 5 anos atrás. E, ainda assim, existem MUITOS casos que não são notificados pelos profissionais da saúde porque ou não fizeram a notificação, ou não julgaram necessário, ou nem ao menos souberam do caso. Se quer ter uma ideia, semana passada participei de um grupo de apoio aos transtornos psiquiátricos (sim, quem organizou essa merda de grupo foi completamente macaco ao resolver juntar todos os transtornos num grupo só) que tinha umas 30 pessoas, 20 eram mulheres. Dessas 20 mulheres, FODENDO 10 MULHERES RELATARAM ESTUPRO, e todas afirmaram que NUNCA falaram disso com nenhum profissional da saúde ou de segurança pública. É absurdo. Ninguém fala sobre isso, finge que não acontece, cala a vítima e justifica a violência.
Não dá para ser assim, anã. Estamos vivendo quase uma guerra civil e achamos que 63 MIL MORTES VIOLENTAS POR ANO é algo corriqueiro. Fechar os olhos não é solução.